AME - Quatro ou seis meses?

Depois de anos de campanha martelando na população que as mães devem amamentar seus filhos até, no mínimo, seis meses de idade, surgem novas evidências que contradizem essas orientações da Organização Mundial de Saúde (OMS).
Não é o caso de se ou não a amamentação no peito é boa. Sim, é. O desentendimento, relatado pela revista Nature, se dá em relação a quanto tempo se deve dar apenas o leite materno para a criança. Em 2001, a OMS defendeu que esse período deve ser de seis meses. Agora, artigo de revisão publicado no British Medical Journal baixa para quatro.

Por quê?


Segundo os autores, todos eles de universidades britânicas, há evidências de que amamentar por seis meses só com o peito aumenta as chances de a criança desenvolver problemas motores, mentais e psicológicos, consequências da anemia.

Por outro lado, o trabalho reconheceu que, no Ocidente, crianças que se alimentam apenas de leite materno até os seis meses têm menor risco de contrair infecções. Ainda em 2009, órgãos europeus da área de saúde e alimentos sugeriram que, entre o quarto e o sexto mês, a criança passe a comer alimentos sólidos.

Segundo os autores da revisão, novos estudos mostram que apenas o leite materno não é suficiente para suprir as necessidades energéticas da criança, nem mesmo o ferro de que ela precisa.

Conflito de interesse?

No meio da polêmica, a OMS levantou questão interessante (e relevante) sobre os autores da revisão. Três deles (quatro, no total) receberam fundos da indústria de comida para bebê.
Três dos quatro autores do estudo receberam fundos da indústria de comida para bebê

Em entrevista à Nature, um dos autores defendeu a isenção dele e dos colegas, alegando que, no artigo, não há sugestão de nenhuma marca e que a comida pode ser caseira. Diz ainda que não é função deles, pesquisadores, darem conselhos.

Mas, na opinião deles, há evidência de que a comida sólida deveria ser introduzida entre quatro e seis meses de idade da criança.

Certeza em tudo isso: a controvérsia continuará.


Cássio Leite VieiraCiência Hoje/ RJ

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